segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Carta ao Gabriel (ao Pietro e a mim mesma)

Olha, Pietro nem nasceu - SIM, É UM MENINO! E eu mal consigo lembrar de postar no blog. Vida corrida? Nem tanto. Mas coisas e coisas vão surgindo na frente. E eu sumo do blog. Aqui me faz muito bem, é um lugar meu. E eu tô muito nessa vibe de um lugar meu. Divagando esses últimos dias até onde é se recolher e onde é se isolar. Mas o fato é que não estou muito sociável nessa gestação não. Eu até tento, mas estou gostando de me descobrir, ficar no ninho com a família. As vezes até me sinto aqueles senhores que tem seus horários e rotinas e odeiam mudá-los. Tá, vai, nem tanto... Ter uma filha de 2 anos e 3 meses e uma barriga que cresce a cada dia não me permite lá ter muita rotina. Só que estou achando mais interessante descobrir meus próprios desejos, sem certo e errado, medir esse "certo e errado"  apenas pela minha paz de espírito.

Mas o fato é que eu deixei o blog e agora to com assunto acumulado até a tampa. Vamos aos pouquinhos e chegamos lá. 

Esse fim de semana finalmente saímos de Sampa e fomos para o sítio do Renato - nosso amigo do teatro e também padrinho da Sarah - junto com os outros amigos do teatro. o Renato também terá um filho, o Gabriel, junto com a Cris, e a DPP é muito próxima, ela está com 2 semanas e meia a mais que eu. 
Resolvemos manter a tradição e fizemos um chá de bebê no sítio, dessa vez para Pietro e Gabriel. Foi um fim de semana bem marcante. A Sarah foi pela terceira vez no sítio - ops, quarta! fizemos seu chá de bebê lá também em 2011 - e dessa vez aproveitou como nunca. Comprei uma boia de braço para ela, e aos poucos ela foi se familiarizando com o trambolho. Ela sempre sempre amou piscina, é incrível ver a empolgação dela dentro de uma. E não é qualquer uma. Tem que ser as fundas, grandes, com emoção please. Já mesmo no sábado quando chegamos, em poucas horas de "treino" ela aprendeu a nadar - com as boias, claro - com muitos engasgos, águas engolidas e cuspidas lá foi nosso peixinho aprender a bater os pés. As vezes, varias vezes, se empolgava e gritava de felicidade e lá vai mais uma engasgada fenomenal, mas sem medo, sem choro. Acabou o dia e ela estava acabada, mas com tanta novidade, tanta música, tanta gente, ela segurou o sono até onde pôde. Todos juravam que, quando ela deitasse, ia capotar até o outro dia. Eu tinha o pé atrás, e confirmei minha dúvida. Enquanto todos faziam a balada lá do lado de fora eu e a Sarah tivemos nossa balada particular. Ela acordou várias e várias vezes como um bebezinho que está em salto de desenvolvimento, chorou , agitou os pés, chamou pela tia Helen, pelo papai, pela piscina. Eu também era assim quando pequena, não conseguia dormir bem depois de nadar muito. E ela teve um aprendizado bem significativo. Fomos dormir as 2h de verdade e acordamos as 7h. Casa vazia, tomamos nosso café e lá fomos nós para a piscina. Sozinhas e felizes. Ela nadou uma piscina inteira buscando meus braços, e foi mais emocionante do que vê-la aprender a andar.

Aos poucos as pessoas foram acordando e a tarde fizemos o chá de Gabriel e Pietro. Cada um apresentou ou improvisou algo artístico para nós. Foi muito especial. Como grávidas que se prezem choramos feito crianças. Eu também apresentei um texto que escrevi no sábado a noite, em uma das poucas meias horas que a Sarah dormiu sozinha no quarto. Foi um texto que me ajudou muito a botar pra fora e não enlouquecer no meio de tanta gente que não fazia ideia do sono, cansaço físico, e solidão que rola num lugar onde só você é mãe. Escrevi esse texto para mim e para a Cris, que em breve estará na mesma que eu. E escrevi para relembrar que eu sou muito muito feliz com todas as minhas escolhas.
Vou transcrevê-lo para cá:
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Hoje a única coisa que me diferencia de todas as outras mulheres aqui presentes é a maternidade. A que mais está perto de "me entender" no que vou dizer aqui é a Cris, mãe do tão esperado - talvez esperado a vida toda - o Gabriel.
Então é para vocês dois principalmente que hoje eu falo.
Não, eu não vou te iludir, dizendo coisas lindas em torno na maternidade. Não vou te falar sobre harpas tocando pelo fato de ter um filho.
Te direi que é bem possível que você não se sinta mãe imediatamente após o parto, e que isso é normal. Pode ser que você se sinta um bicho parindo ( que é o que realmente você é) e um bicho ainda mais feroz e ainda maior segurando seu filho nos braços, mas que pode ser que você não queira, nos próximos meses, nomear isso de amor. E tudo bem.
Você tem o direito e sentirá muitas vezes muita raiva da demanda dele. Vai desejar enfiar ele pela vagina adentro, pra voltar pra barriga, sem choros e mamadas que nunca cessam.
Vai querer voltar no tempo onde não tinha hora para acordar. 
Vai olhar em sua volta, seus amigos sem filhos e se sentirá um ET, fora do ar e sem tempo de prestar a atenção numa conversa de um minuto, e não terá muitos assuntos em comum. terá raiva deles também, quando reclamarem que estão com sono porque foram para a balada no dia anterior, encheram a cara e dormiram "SÓ" 6 horinhas.
Se olhará no espelho e não se reconhecerá por um bom tempo provavelmente.
Vai se sentir como se fosse 2 tetas ambulantes, que jorram leite e mancham suas roupas de estimação.
aos poucos vai desapegar da vida material.
Vai desapegar de banhos decentes, dentes escovados a cada refeição e cabelos penteados.
Mas te direi que você nunca esteve tão linda. Uma mulher que está despida de todas as regras e deveres da sociedade, que é ela na sua essência, que se permite viver tudo isso, é uma mulher de verdade, verdadeira, é a mulher essencial.
É a mulher que não tem medo de cara feia, não tem medo de perder amigos e parentes, nem ninguém por ser ela mesma.
Porque o que ela precisa está ali, no seus braços e na sua alma.
É o que importa, o resto do mundo fica pequeno diante da grandiosidade de ser você mesma. Graças ao Gabriel.
Criar uma pessoa, parir, gestar (não necessariamente na ordem, isso acontecerá daqui pra frente pela vida toda).
Não é nada nada fácil, nada se compara no mundo, por isso é uma realidade que só quem é mãe tem a bênção de entender. 
Você vai se pegar várias vezes falando com Deus através do olhar de seu filho. E vai se perguntar como pôde ter a capacidade de fazer algo tão belo.
Vai ter a oportunidade de dormir mas vai se pegar admirando cada parte do corpo dele. Você vai chorar lágrimas doces. Vai acordar amando cada dia mais e isso nunca vai parar, mesmo quando parecer impossível.
O amor verdadeiro é aquele não tem condições para ser, e que você pode deixar caber todos os outros sentimentos sem medidas e sem esconder do ser amado.

Gabriel, nascer não é fácil. É um dia muito cansativo, quase o fim do mundo. Mas não se assuste, tenho certeza que no fim do túnel sua mães estará a postos para te acolher. Você vai achar sua mãe o máximo do lado de fora. ela continuará sendo seu mundo algum tempo, até que você vai descobrir o restante do mundo. Você tem o direito de chorar e ficar bravo quando alguém quiser tirá-lo do colo da mãe, e pode se revoltar quando ouvir que tal pessoa dorme como um bebê, porque seu sono será leve o suficiente para intrigar seus pais muitas vezes.
Mas aos poucos  eles entenderão que é uma questão de sobrevivência e uma "pitada" de amor puro.
peça colo e muito peito, não deixe qualquer mané tentar convencer sua mãe a deixá-lo desamparado (pode fazer xixi na cara do mané se quiser).
Deixe sua mãe descabelada, ela está aprendendo mais com você do que já aprendeu em toda sua vida.

O resto, bem, o resto você já sabe como faz. Sabe mais que nós, pessoas crescidas e maduras no corpo, mas que deixaram o "ser humano" lá pra trás. 
Revire de cabeça para baixo seus pais, Gabriel, que aos poucos eles descobrirão que o avesso é o lado certo.
Desejo a todos que ainda serão pais, viverem tudo o que vivemos com nossas duas maiores riquezas da vida toda.

Obrigada por esse momento
Luciana Ribeiro.