sexta-feira, 4 de abril de 2014

RELATO DE PARTO DO PIETRO

Tive que escrever logo toda essa experiência. Para não perder muitos detalhes. Detalhes ricos, que me fazem mais humana todos os dias.

Apresento então o relato de parto de Pietro.

Bem, a ideia de ter mais um filho demorou para chegar, após um pós parto muito difícil de ser elaborado e vivido. Mas eu sabia que em algum momento essa vontade voltaria, como sempre existiu na nossa cabeça. Não me lembro muito bem como, mas aos poucos fui me sentindo preparada para pelo menos me permitir pensar na ideia. Trabalhando como doula então, a ideia começou a virar desejo. Ver aqueles bebezinhos lindos chegando ao mundo me fez virar a chave de vez.
Começamos então a conversar sobre essa possibilidade. O Ângelo já estava super empolgado!
Concebemos o Pietro na noite do nascimento do Theo, filho da Maiara e do Diego, minha amiga no qual fui doula e acompanhei toda a gestação e finalmente o parto. Um pequeno criado de 4,735kg, que nasceu em um parto super transformador. E que transformou de vez nossa vida. No mesmo dia fui conferir a tabela que tinha no celular que eu anotava meu ciclo e lá apareceu: primeiro dia do período fértil. Um gelo na barriga. Como tenho uma boa regularidade no ciclo sabia que tinha muitas chances de ter engravidado.
7 dias depois eu já estava super encanada e resolvi pedir pra Bia me trazer um teste de farmácia. Na gestação da Sarah descobri 11 dias após a concepção. Para minha surpresa veio um belo negativo – óooobvio- e então desencanei, e com a correria do dia a dia esqueci. Estava começando um tratamento ayurvédico com a Ju, minha profa de Yoga, uma dieta desintoxicante e muitas coisas sendo elaboradas. Os dias passaram e uma semana antes de menstruar, tive dois dias de pequenos sangramentos, mas como aquilo já estava rotineiro desde que voltei a menstruar, não liguei. O sangramento parou, e no dia que viria a menstruação ela não apareceu, mas atribuí a toda a mudança alimentar e comportamental da Ayurveda, afinal estava mudando radicalmente minha rotina.

3 dias depois no atendimento com a Ju estávamos combinando a próxima etapa do tratamento que não poderia coincidir com a menstruação, foi então que ela perguntou quando seria e eu respondi que estava atrasada. Eu já havia falado pra ela que era possível uma gravidez por aí, mas ambas já nem cogitávamos mais a ideia. Na hora da massagem, assim que ela encostou a mão na minha barriga, no útero, eu senti aquele pesinho, típico de início de gravidez. Estava sentindo algumas coliquinhas também, parecidas com as menstruais. Tudo foi se ligando, e eu disse: To grávida. Combinei de passar na farmácia comprar o teste. No caminho liguei para o Ângelo, que estava viajando, e contei. Ele ficou super animado e eu me perguntando de onde vinha toda aquela felicidade... Estava confusa, eu não sabia muito bem se estava na hora mesmo. Estávamos naquela época boa, em que a Sarah já dormia a noite inteira e pelo menos uma vez por semana a gente passava a madrugada bebendo vinho. Cheguei em casa, sozinha, Sarah na escola, fiz o teste, e, pela segunda vez na vida, chorei aquelas lágrimas de felicidade, de medo, de pavor, de amor. Lá estava o Pietro. Assim que fiz corri ligar para o Ângelo, e desabei de chorar, de soluçar. Ele me acalmou, me confortou. Não queria contar para ninguém da nossa família antes dele chegar, e faltavam mais alguns dias.
Passei algumas semanas sem ter sintoma algum, mas quando eles vieram foram todos de uma vez. Doular com toda aquela enxurrada hormonal era muito cansativo, mas ao mesmo tempo era uma sensação muito diferente, mais pura, não sei muito explicar, mas lotada de intuições.

No meio disso tudo, passei pela pior experiência do mundo doulando. O falecimento de um bebê. De uma amiga minha muito querida. Fui sua doula. Por ser minha amiga, por ser doula, por estar grávida, queria acolhê-la, mas de que forma? Tive muito acolhimento, mas a partir de então passei uma gestação cheia de medos, dia após dia trabalhando para elaborá-los, aceitá-los, vivê-los e uma hora, me despedir deles. Eles me acompanharam até o momento do nascimento do Pietro, e até um pouco mais.
Quanto ao parto, assim que a Sarah nasceu eu tinha certeza que se houvesse um próximo filho, ele nasceria em casa. O ambiente hospitalar já não fazia mais sentido para mim.. Antes de saber que estava grávida tivemos esse papo em casa, e foi na época do lançamento do filme “O Renascimento do Parto” Fomos assistir, e, chocado, o Ângelo saiu de lá dizendo que não iríamos mais para um hospital parir se não fosse necessário.

Bem, marcamos  nossa primeira consulta e escolhemos nossa parteira. Ela parecia perfeita para o que procurávamos em termos de assistência ao parto domiciliar, além de já ter atendido parto com ela. Ana Cris era nossa escolhida.
Durante toda a gestação segui fazendo yoga e atendimentos individuais corporais, o que me deu muito suporte para tanta coisa acontecendo. Foi uma gestação saudável porem cheia de desconfortos, que aumentavam pelo fato de já ter a Sarah para cuidar. Sentia que precisava me poupar o tempo todo. Talvez instinto. Meu corpo mandava e eu obedecia. Foi também uma gestação mais “reclamona”, mas eu prefiro chamar de verdadeira, autêntica. Chorei, briguei, descansei, pedi tudo que tinha direito. Me encontrei.

Volta e meia me batiam medos de precisar que o parto fosse hospitalar, e o que mais me rondava era por parto prematuro. Não sei se eu já sentia, e me lembro que no meu primeiro USG a médica me perguntou se o parto anterior tinha sido prematuro. Respondi que não e ok, não a questionei sobre. Passei a gestação cheia de dedos, poupava energia e esforço sempre que podia, até para fazer cocô eu ia com cautela... Ah, intuições...

Com 35 semanas eu tinha um workshop em Ubatuba, “Os 7 segredos do parto”. Era focado também para doulas, mas sentia que precisava ir como gestante. O dia chegou e não conseguimos ir para o primeiro dia. Tudo, absolutamente tudo aconteceu. Senha do banco bloqueada, pagamento atrasado, e mil e outras coisas impediram a gente de ir. Mas insisti em ir no segundo dia, eu realmente precisava encontrar alguma coisa por lá.
Fomos, e enquanto o workshop rolava, o Ângelo e a Sarah foram passear na cidade. Recebi massagem e carinhos de todas as formas. E entendi o porque eu precisava estar lá. Aceitar. Aceitar que não estava no meu controle. Que dali pra frente eu só precisava me entregar, dizer sim e me despedir do que não era meu, do que não dependia de mim.
Em meio a perguntas e respostas, contrações de BH toda hora, Pietro estava transverso e senti que era por isso. Respirei, me alonguei, fui molhar o pé no mar e ele se reposicionou. Ainda brincamos que se eu parisse lá, doula não faltaria! Mas essa brincadeira no fundo me dava medo, uma sensação de que poderia acontecer mesmo.
Acabou o dia, fomos para o hotel e uma chuva torrencial caiu. Pedimos pizza, comemos, tomamos banho e nos deitamos. Fiz a Sarah dormi na cama de casal, mas fui dormir na cama de solteiro, estava com a sensação de estar do tamanho de um elefante. Quando estava pegando no sono profundo ouvi um plaf. A Sarah se espatifou no chão e chorou muito, colo do pai não adiantou, trocamos de lugar e fui acolher minha bichinha. Deitamos e comecei a sentir uma contração atrás da outra, fiz xixi pra ver se passava, se era bexiga cheia. A Sarah acordou e foi junto comigo. Começou a me dar dor de barriga, achei que fosse a pizza que não tinha caído bem. E contração. Saí do banheiro, a Sarah estava meio agitada, não conseguia dormir, e eu, apesar de podre de cansada, afinal tínhamos passado uma semana doentes, mais todas essas loucuras do fim de semana, estava agitada também. Deitamos e, magicamente, ela entrou em sono profundo. Eu fechava os olhos e  o sono havia ido embora. As contrações de BH pararam, achei que era a indisposição mesmo e fui relaxando. Até que... um rodopio da cabeça do Pietro e ploft! Um tranco. Um tranco? Como a cabeça no líquido pode dar um tranco desses? Deus, me diga que foi um tranco grotesco. Contando... 3..2..1..... xxxxxxxxxx

Líquido quente escorrendo. O xixizinho já tão conhecido, igualzinho ao da gestação da Sarah.
Nãooooo!!!!! Não! Isso não está acontecendo, meu Deus! 35 semanas e 3 dias, prematuro, hospital, não... 

Calma, respira e vai no banheiro, talvez seja um sonho. Não era. Continuou a escorrer. Chamei o Ângelo, e assim como no da Sarah, mesmo agora sendo inesperado, agiu com calma, me trouxe calma na medida do possível.
-Calma, o que você quer fazer?
- Quero ir embora.

Mandei mensagem para a Ana Cris, para a Mariana, para a Dolores.
- Foi só uma rotura alta. Estamos subindo pra São Paulo.
Saímos meia noite e meia do Hotel, o pessoal sem entender nada. Sarah dormindo profundamente, a chuva torrencial lá fora, e nós. No carro, rumo ao sabe-se lá o que.
Chorei, como chorei! Naquela altura já não me importava onde seria o parto, o medo de não ser mais em casa já havia passado, havia algo muito maior para pensar. Mas num cochilo, ainda mentalizei o líquido parando, e eu permanecendo de repouso até o termo. 5 minutos depois uma pressão, uma vontade de levantar do banco. Paramos em um posto e assim que levantei... CHUÁAAAAAAA..... Bolsa rompida. 

Respira mais um pouco, chora mais um pouco. De uma hora para outra já não sabia mais as condutas certas a tomar. Ser doula já parecia não fazer parte de mim, parecia que eu não sabia mais. Conversei com a Dolores e ela me disse para ir ao hospital fazer um cardiotoco e exames para ver se não tinha nenhuma infecção. Usamos o caminho todo para ir processando a logística toda. Arrumar malas, roupas que nem havíamos comprado, nada pronto. Sarah dormindo. Vamos para a casa primeiro, precisamos dormir, não aguento um TP desse jeito. Amanhã de manhã vamos ao hospital. Tive por uma hora e meia contrações regulares, de 5 em 5 minutos, sem dor, mas que pararam ao sair do carro. Fomos dormir, eu estava acabada. Acordei desejando ser um sonho ainda, mas vi que ia ter que encarar. Liguei para minha mãe e contei, da maneira mais suave e calma possível, que seu segundo netinho ia nascer, e que eu precisava da ajuda dela em casa com a Sarah enquanto a gente se organizava.
Um parênteses: Na última aula de yoga, fizemos uma visualização do parto. Não saía do mesmo lugar, e a única coisa que conseguia visualizar era que eu precisaria da ajuda da minha mãe quando a coisa começasse, quando a bolsa estourasse. E eu sempre disse que não ia avisá-la até ele nascer, e ela sempre pediu para só avisar quando nascesse. Mas eu sabia. Ela sabia. Estávamos lá, juntas.

O Ângelo saiu para comprar café da manhã, e eu fui arrumar as poucas roupas que o Pietro tinha, doadas pela Bia e pela Elisa. Arrumei documentos, câmera fotográfica. Tudo o que lembrei. Estava com fome mas nada que comia me satisfazia, nada era muito bom e apetitoso. As contrações começavam e paravam totalmente. Decidi que precisava fazer aquele TP começar sozinho, já que a indicação era indução e monitoramento.

Colocamos um pen drive que escutamos com a Sarah no quarto dela, e no meio da correria fui tentar relaxar. Mas a Sarah estava agitada, queria brincar, queria pular na bola, então decidimos que seria melhor ela ir para a minha mãe. Nos despedimos e fomos nos concentrar. Fiquei encostada na bola enquanto o Ângelo me fazia massagens. Conversamos, chorei mais, deixei meu corpo ir aceitando no tempo dele, se entregando no tempo dele. Nos deitamos e ali começaram as contrações. Monitorei por uma hora e elas continuaram. Sem dor quase. Mais 15 minutos e elas começaram a ter alguma dorzinha. Falei com todas e achei melhor irmos. Parecia que ia evoluir rápido. Ao mesmo tempo tinha medo de parar tudo de novo, de eu chegar lá e ficar tensa com o hospital e precisar induzir, já que chegando lá com certeza não sairia mais sem o Pietro. Confia! O Pietro quer chegar, e ele mal esta se importando com as semanas, com o local.
Nos despedimos mais uma vez da Sarah e dos meus pais (meu pai já estava desesperado, achando que a gente era muito calmo, tudo o que ele tinha visto no Renascimento do Parto ele esqueceu kkk). Minha mãe ainda fez uma brincadeira: - Imagina se vocês encontram a Cris e o Renato lá? A Cris já estava com 38 semanas, o Renato é nosso amigo e padrinho da Sarah. Fizemos até um chá de bebê juntos, temos todos uma ligação muito forte.

No caminho as contrações continuaram, média de 6 minutos, e a intensidade também foi aumentando, mas muito tranquilo.
Chegamos no hospital e combinamos de nos encontrar, Mari e Dolores, na recepção do São Luis. Entramos e fomos para o outro lado da recepção. No meio de uma contração olhei para a frente e entrei em choque: Os pais da Cris sentados.
Oi? Como? Fui falar com eles e descobrimos que o Gabriel tinha acabado de nascer, as 14h, eram 16h. Eles estavam esperando apenas para subir visitar. Comecei a chorar de emoção, pela vida, pelas voltas da vida, pelo destino. No primeiro dia que nos encontramos grávidas no primeiro trimestre brincamos com essa possibilidade. Há poucos minutos minha mãe também havia falado. Só de lembrar eu me arrepio inteira. O pai da Cris ligou no celular do Renato e o Ângelo falou com ele. Mas ele pareceu não ter entendido que estávamos lá para o Pietro nascer também!

Nos despedimos deles, ainda com o coração fervilhando com tanta intensidade de acontecimentos e encontramos a Dolores e a Mari. Subimos para a admissão enquanto o Ângelo fazia a parafernalha da ficha. Assim que deitei na maca para o cardiotoco e toque as contrações ritmaram de 2 em 2 minutos. Tudo ótimo, um alívio imenso de saber que meu Pietro estava bem, vamos para a sala. Entre uma enfermeira e outra eu brincava (algumas delas eu conhecia por atender partos lá): - Já viu uma doula parindo? E fazia auto massagem e me mandava relaxar, respirar... A gente ria muito, e eu adorava brincar com isso, tornava o momento mais leve.

O Ângelo estava tranquilo até demais. Tanto que me ligou falando que ia lá dar uma passadinha no quarto da Cris antes de ir me encontrar. – tá doido? Vem pra cá que tá aumentando rápido.



Eram 17h e pouco quando chegamos na sala. Entrei na banheira, a vida ficou florida. Ahhhh Deus, como era bom.  Tava começando a doer de verdadinha. Depois de um tempo lá percebi que as contrações deram uma espaçada, mas fiquei na minha, queria esse tempo para me recuperar. Até que elas perceberam também e vieram me sugerir para sair um pouco. Foi tirar a bunda da água que elas começaram de 2 em 2 minutos de novo. Não precisava fazer nada demais. Só tê-las fora da água. Precisava muito do Ângelo. Ele foi minha força extra, o amor da minha vida toda naquele momento. Dei algumas patadas nele por conta disso, quando ele se afastava eu ficava insegura.  Mas foram patadas do bem.

Continuamos. Bola, vaso sanitário, e no meio de cada contração uma história boa de ser contada, de ser vivida, uma piada, uma música, Ângelo nos matando de rir imitando as Chacretes. Poderia ficar ali naquele clima de festa, de comemoração muito tempo ainda... Ops. Nem tanto. Até então respirar e me concentrar na respiração nas contrações estava fazendo efeito, já tinha experimentado vocalizar, mas aquele parto estava pedindo mais silêncio, mais pranayamas. Lá pelas 21h30 eu comecei a sentir vontade de empurrar nas contrações. Não eram puxos mas era um alívio imenso empurrar. Sentada no vaso, a Mari puxava meu quadril com o rebozo e o Angelo segurava meus braços para me dar suporte. Estávamos entrando de fato na fase ativa do TP. De fato em TP.


Dançando à la Chacrete
22h.Toque, 6 cm, Pietro baixinho, por isso a vontade de empurrar. Quando eu não conseguia me concentrar no início das contrações, meu Deus, que tortura passar por elas...Socooooorro! Alguém me tira daqui! Não conseguia respirar, não conseguia achar onde empurrar direito, era tudo meio torto. Até que precisei voltar para a água. Ângelo e  Mari subiram para comer algo, e apesar de ter a Dolores do meu lado, ele me fazia falta. Ali, naquela altura, só me assistiam. Eu fazia massagem na minha lombar no final das contrações, e segurava o rebozo nas contrações. Pensei: “se ficar mais forte que isso eu vou morrer! “.....Opa! Quando a gente pensa que não vai mais aguentar é porque está no fim. Viva! Mas, tão rápido assim?

Eles voltaram e consegui finalmente voltar a me concentrar melhor. Talvez estivesse com medo de me entregar e o Pietro nascer sem eles lá, era bem possível.
Expulsivo























Já estava fazendo 23 horas de bolsa rota, e como era um parto prematuro conversamos sobre a possibilidade de eu tomar antibiótico, eu aceitei. Assim que aplicado, os puxos começaram de vez. Fiquei com medo. Comparei com o da Sarah. Me parecia mais dolorido. Esquece, Luciana! Você está no parto do Pietro, se joga, energia! Respira e encontra essa energia que só um puxo de parto pede e oferece para você.

As meninas me lembraram de tentar sentir o Pietro. Coloquei os dedos e de repente, encontrei sua cabecinha! Descendo, ainda um pouco longe, mas era ele! Nossa, como me deu forças! A cada contração difícil que passava eu o tocava para me lembrar que ele estava de fato lá e que estava chegando. Mais algumas poucas forças e foi ficando cada vez mais incontrolável, e mais eu precisava ter controle. Está ardendo! Já? Tão perto assim? A Dolores me ofereceu para ver no espelho. Assim que passou a contração eu olhei, mas logo veio outra e eu pedi para correr com aquele espelho dali! Fui acariciando sua cabecinha que aos poucos chegava, respirava para não empurrar de uma vez, para ele chegar devagar, sem lacerar. Dolores olhou para o Ângelo e perguntou: -Você quer pegá-lo?
-Pegar quem?
Ahahhahahahaha, ele ficou desnorteado, com a pergunta, andou um pouco e voltou com as mãos prontas para recebê-lo.

Ao som de Isadora Canto, nosso pequeno chegou.

“É a hora esperada, vamos nos conhecer.
Vou olhar em sua alma e amar-te ainda mais.
Agora quero ver você nascer,
Agora somos eu e você!
Vamos nos preparar, o momento vai chegar,
O momento vai chegar,
Nascer.”


O Ângelo o segurou firme e me entregou. Todos em silêncio.
Dei boas vindas, o abençoei.
Ele deu apenas um gritinho, e tudo silêncio. Beijos, muito carinho.

Nosso pequeno prematuro nasceu com APGAR 9/10, 3.090Kg, 48,5 cm, procurou peito sozinho, mamou quase 2 horas seguidas. Capurro de 36+3, como o ultrassom.


Apesar de tudo ter ido maravilhosamente bem, nosso pequeno ficou 3 longos dias na UTI. Na tarde seguinte ao seu nascimento ele apresentou uma queda de saturação, um desconforto respiratório. Levaram nosso menino para uma série de exames. Vivemos uma luta de UTI, de conquistas em cima de conquistas, de plantão em cima de plantão, muita persistência por NOSSOS direitos. Sarah só conheceu seu irmão em casa, quando, junto com a minha alta, ele também teve a dele. Ela foi me visitar, mas o bercinho estava vazio. Um vazio, uma vontade enorme de juntar os dois e sair correndo para a casa. Chorava por ele, chorava por ela... Que saudade da minha menina, agora irmã mais velha... 

Gratidão, entrega, empoderamento, aceitação são as palavras dessa jornada. E o amor regeu todas elas.
Agradeço imensamente ao meu marido,  seu amor e confiança me trazem vida, me ajudam a dar amor, a respirar amor.

Dolores, Ana Cris, Mariana de Mesquita, Anna Gallafrio, participantes do workshop “Os sete segredos do Parto”, que me mandaram uma corrente tão boa que pude sentir a todo momento, Flávia Tavares, Cirandeiras, Materna em Canto, amigas virtuais, amigas de longa data, Bia Takata, Thati Menendez, Ju Zanella, nossa família, agradeço a cada mulher que doulei, me lembrei um pouco da força de todas no meu momento. É muita sorte ter um círculo de gente do bem como temos. Muito, muito obrigada por estarem presentes de alguma forma.